Advertência
Este Glossário de Estratigrafia Sequencial não deve ser considerado como uma tentativa de normalização da terminologia da Estratigrafia Sequencial. O trabalho aqui apresentado corresponde, simplesmente, a uma compilação de definições e conceitos dispersas nas mais variadas publicações sobre a Estratigrafia Sequencial. Ele é destinado, principalmente, a servir os jovens geocientistas que seguiram os nossos cursos e ateliers, uma vez que todos os termos definidos foram e são utilizados nessas classes. No vocabulário, para cada termo, apresenta-se: (i) uma definição sucinta (com uma tradução em inglês, francês, espanhol, alemão, chinês, russo e italiano que, mais tarde, será actualizada, particularmente, a tradução em alemão) ; (ii) uma tentativa de interpretação de uma linha sísmica, um esquema ou uma fotografia ilustrando o seu significado e (iii) um comentário, por vezes com notas, esclarecendo determinados pontos relacionados com a ilustração do termo.
No autotraço de uma linha sísmica do offshore da Indonésia, assim como na tentativa de interpretação geológica (em termos de Estratigrafia Sequencial) do mesmo autotraço, ilustrados na figura abaixo, um geocientista só verra aquilo que ele conhece à priori. Da mesma maneira, ele só compreendera os termos e os conceitos geológicos descritos na legenda desta tentativa de interpretação se tiver um bom conhecimento da Estratigrafia Sequential. É neste sentido que este glossário os pode ajudar.
Nesta tentativa de interpretação geológica de um autotraço Canvas, de uma linha sísmica do offshore da Indonésia, a escala vertical, tal como na grande maioria das linhas sísmicas, é em tempo. Isto que implica, necessariamente, modificações importantes quando a tentativa de interpretação é convertida em profundidade, em particular, quando há variações laterais significativas da espessura e da velocidade dos intervalos sísmicos. A escala horizontal é métrica. O comprimento da linha original é cerca de 550 km. Os reflectores sísmicos, que representam interfaces entre pequenos intervalos sedimentares (10-20 metros de espessura), podem seguir-se, em continuidade, numa distância comparável ao comprimento de Portugal. Todavia, isto não é o caso no campo, onde os afloramentos são descontínuos e difíceis de correlacionar (escala de observação mesoscópica). Na tentativa de interpretação geológica aqui apresentada, o geocientista (não necessariamente um geofísico de formação) que fez a interpretação não só assumiu que “a Teoria precede a Observação”, mas também aplicou os princípios de “falsificação” e “refutação” do contexto geológico da região. O contexto geológico pode resumir-se assim: (i) uma margem divergente não-Atlântica, desenvolvida dentro da megassutura do Mesozóico/Cenozóico, constituída por um soco de idade pré-Mesozóico, no qual se desenvolveram bacias de tipo-rifte, que foram fossilizadas pelos sedimentos de uma bacia interna ao arco ; (ii) A bacia interna ao arco foi coberta por uma margem divergente não-Atlântica, uma vez que nem houve oceanização (alastramento oceânico) nem criação de um mar marginal (mar do sul da China, bem visível ao norte desta área). Ao contrário das tentativas de interpretação geológica ingénuas (indução e verificacionismo), neste caso, o geocientista depois de refutar várias tentativas de interpretação, utilizando todos os dados disponíveis (resultados dos poços de pesquisa, gravimetria, magnetismo, etc.), escolheu a tentativa de interpretação mais difícil de “falsificar” como a mais provável. Não há boas ou más interpretações mas, unicamente, interpretações, facilmente, refutáveis e outras que são mais difíceis de refutar. Os pacotes sedimentares correspondem a ciclos estratigráficos, quer isto dizer, a intervalos sedimentares depositados durante ciclos eustáticos. Os ciclos estratigráficos são delimitados por discordâncias (definidas por biséis de agradação e biséis de topo ou somitais). As discordâncias são superfícies de erosão (como por exemplo: SB 5,5 Ma ; SB 10,5 Ma, etc.) induzidas por descidas do nível do mar relativo, uma vez que a eustasia (variações do nível do mar absoluto ou eustático) é o principal responsável da ciclicidade dos sedimentos (as variações eustáticas são muito mais rápidas do que as variações tectónicas que, em certos casos, podem explicar, por elas só, a ciclicidade dos depósitos). Na Estratigrafia Sequencial, o nível do mar pode ser relativo ou absoluto. O nível do mar relativo é o nível do mar, local, referenciado a um ponto qualquer da superfície terrestre, quer seja o fundo do mar ou a base dos sedimentos (topo da crusta continental). O nível do mar absoluto ou eustático é o nível do mar, global, referenciado ao centro da Terra ou a uma satélite. O nível do mar absoluto ou eustático é o resultado da combinação da: (i) Tectonicoeustasia que é controlada pela variação do volume das bacias oceânicas em associação com alastramento oceânico no seguimento da ruptura dos supercontinentes ; (ii) Glacioeustasia, que é controlada pela variação de volume de água dos oceanos função da quantidade de gelo (assumindo que a quantidade de água sob todas as suas formas é constante desde a formação da Terra, há cerca de 4,5 Ga) ; (iii) Geoidaleustasia que é controlada pela distribuição da água dos oceanos causada pelas variações do campo da gravidade terrestre (onde a gravidade é mais forte que o valor normal, o nível do mar é atirado para o centro da Terra) e (iv) Aumento estérico do nível do mar ou dilatação térmica dos oceanos, que é controlo pelo aumento da temperatura dos oceanos (se a temperatura aumenta, a densidade da água diminui e, para uma massa constante, o volume aumenta).Obviamente, o nível do mar relativo é o resultado da acção combinada do nível do mar absoluto ou eustático e da tectónica (subsidência ou levantamento do fundo do mar função do regime tectónico predominante). As idades das discordâncias propostas nesta tentativa de interpretação seguem as idades propostas por Hardenbol et al. (1998). Na parte superior desta tentativa de interpretação, onde a taxa de deposição foi, relativamente, elevada, reconhecem-se, facilmente, os ciclos-sequência (induzidos por ciclos eustáticos de 3a ordem). Reconhecem-se, também (linhas continuas vermelhas) algumas superfícies de inundação máxima (MFS): MFS 5,0 Ma ; MFS 16,0 Ma ; MFS 17,0 Ma e MFS 24,8 Ma. Na parte inferior e, particularmente, durante o início do Miocénico e Oligocénico, os pacotes sísmicos são, relativamente, pouco espessos e a diferença de idade entre as discordâncias, que limitam os ciclos estratigráficos, é maior que 3-5 Ma e menor que 50 My. Consequentemente, apenas se reconhecem subciclos de invasão continental, associados com ciclos eustáticos de 2a ordem. Os planos de falha (em branco) correspondem a superfícies sísmicas definidas pelas terminações dos reflectores (raramente um plano de falha é sublinhado por um reflector, excepto quando ele está injectado por sal, rochas vulcânicas ou quando ele corresponde a uma interface entre sedimentos e um soco. A Estratigrafia Sequencial é uma das melhores ferramentas para a pesquisa de hidrocarbonetos, uma vez que as rochas-reservatório, mais prováveis repousam, por biséis de agradação, contra as discordâncias e que as rochas-mãe marinhas, mais prováveis, estão associadas às superfícies de base das progradações que separam os episódios transgressivos (geometria retrogradante) dos episódios regressivos (geometria progradante). Por outro lado, ela é uma excelente método “proxy” (medição de parâmetros, que correlacionam com certas variáveis para depois inferir os valores dessas variáveis, que não podem ser medidas directamente) da paleoclimatologia, uma vez que ela permite, facilmente, determinar as variações relativas do nível do mar.
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Por razões de confidencialidade, unicamente autotraços manuais (quando os principais reflectores de uma linha sísmica são sublinhados de maneira manual por traços de lápis) e autotraços Canvas (quando os principais reflectores de uma linha sísmica são sublinhados de maneira automática por um software) das linhas sísmicas foram utilizados neste glossário. Por a mesma a razão, por vezes, as localizações e orientações exactas dos autotraços ou dos cortes geológicos não são indicadas. Os autores são os únicos responsáveis da grande maioria das tentativas de interpretação geológica propostas, nas quais certas calibrações são especulativas.
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