VIDEOTEX - UM SERVIÇO ACTUAL?

Luís Manuel Borges Gouveia
Versão 1.0, Julho 0990


INTRODUÇÃO

Nos dois anos que sucederam à introdução comercial do VIDEOTEX no nosso pais, milhares de páginas foram escritas abordando este serviço de valor acrescentado que anunciou a chegada das telecomunicações a um número crescente de indivíduos.

Mas afinal o que é o VIDEOTEX? O VIDEOTEX (também designado por videotexto) é um serviço de telecomunicações que permite o acesso a informação organizada em base de dados. Trata-se de um serviço cuja responsabilidade de exploração cabe à TELEPAC (consórcio CTT e TLP) que também é responsável pela rede pública de comunicação de dados nacional.

O VIDEOTEX baseia-se na dinamização de oferta e procura de informação pelo que podemos definir dois tipos de intervenientes:

- fornecedores de informação, asseguram a oferta de unidades de informação, quer pela sua criação, quer pela disponibilização técnica para interface VIDEOTEX.

- consumidores de informação que consultam as bases de dados "formatadas" em unidades de informação em formato normalizado.

Obviamente estes dois tipos de intervenientes possuem necessidades de equipamento hardware e software diferentes. Os fornecedores de informação são entidades que tem obrigatoriamente de estar homologadas como entidades prestadoras de serviços de valor acrescentado e possuírem os meios informáticos e humanos que possibilitem o acesso à sua base de dados; normalmente recorre-se à subcontratação para uma dada organização se tornar fornecedora de informação.

As razões chave que apontam para o sucesso futuro do VIDEOTEX são facilmente equacionadas em quatro pontos:

- simples utilização - na ligação do equipamento terminal necessário e no encaminhamento e consulta das bases de dados existente no serviço público de VIDEOTEX que foi concebido tendo em conta o perfil do utilizador dessa informação; utilizador não informático.

- baixos custos - o serviço VIDEOTEX baseia-se em minorar custos, que podem ser de investimento (equipamento terminal), de tráfego (tarifação de tempo e dados, semelhante à Telepac) e o custo da própria informação, este último da responsabilidade do fornecedor de informação e sempre afixado em lugar visivel aquando da consulta.

- acesso ao serviço de qualquer ponto do país - resultante do facto de a ligação ao serviço público de VIDEOTEX se efectuar por via telefónica, basta a existência de um telefone para se poder potencialmente efectuar a ligação. Uma outra condição é a existência de um código de entrada, fornecido pela Telepac a troco de uma taxa de inscrição acrescida de uma mensalidade.

- acesso generalizado à informação - No serviço público de VIDEOTEX existem mais de uma centena de fornecedores de informação que incluem desde organismos estatais a agências de informação e bases de dados especificas. Para aceder a cada uma destas basta tomar conhecimento da sua designação e custos de utilização (muitas delas são gratuitas). De qualquer forma com o mesmo terminal podemos "viajar" por todo um conjunto de ofertas de informação de origem distinta existentes no serviço público de VIDEOTEX.

O presente texto pretende focar as implicações e potencialidades do VIDEOTEX na perspectiva do impacto futuro nos clientes de informação. A análise deste tema assenta sobre um conjunto de variáveis em que as opções técnicas e a resolução de problemas técnicos constituem uma pequena parte do universo de problemas a resolver. Observa-se, inclusivamente, que os problemas técnicos não são nem de perto nem de longe aqueles que maior peso tem na aceitação de serviços VIDEOTEX; daí a importância da discussão das potencialidades, carências e características do VIDEOTEX.

UM CONCEITO NOVO

É muito comum a utilização de slogans como a era de informação, a consciência de uma terceira vaga, a sociedade entrelaçada por fios e muitos outros que, embora revestidos de um folclore derivado da sua utilização abusiva, convergem todos para a afirmação da importância da informação.

Os slogans expressam um sentimento próprio em que os seus anunciantes pretendem alertar para um novo modo de vida, um novo "modus operandi" que se avizinha. Nesse novo espaço muitos dos actuais conceitos, princípios e práticas serão substituidas por outras de que muito a custo poderemos imaginar as reais consequências.

No entanto, a transformação não é radical, do ponto de vista da dimensão tempo, ela levará várias gerações numa espiral de evolução, transformando mais que substituindo, à medida que a necessidade e funcionalidade se tornarem mais importantes. Tal explica em parte a dificuldade inicial de crescimento do serviço VIDEOTEX nos anos de 1989 e 1990.

As reacções do homem actual perante o desafio de tentar definir o âmbito e as fronteiras da informação, efectuar a descrição das tarefas que realiza, definir e ensinar a sua capacidade de percepção são ainda e apenas de esperança (vide áreas como a inteligência artificial e a robótica).

É nesta situação que o VIDEOTEX tenta motivar o acesso à informação e incentivar a sua produção como negócio rentável, pela sensibilização de que a capacidade de adaptação do homem na nossa sociedade passa pela sua auto-capacidade de tratar informação.

A consciência da informação como uma nova quinta dimensão tem sido até à data o conceito chave para a promoção do VIDEOTEX concebido em 1977 em Inglaterra. Este esteve sujeito, ao longo da sua história, a realidades e tecnologias bem diversas por toda a Europa.

OS AVANÇOS TECNOLÓGICOS

É lugar comum falar na evolução fulminante que as novas tecnologias e em particular a área de comunicações viveu na última década. Esta evolução "quase diabólica", numa sucessão de técnicas e processos em que a realização da transmissão e comunicação de dados é cada vez mais fiável, mais rápida e a menor custo, marcará os próximos anos do VIDEOTEX. Em conjunção com a tendência apontada, ocorrerá a integração das soluções já existentes e de novas facilidades graças ao cada vez maior potencial de conectividade entre sistemas heterogéneos o que por sua vez afectará o papel do VIDEOTEX e a sua utilização.

Aos dados e à voz junta-se a imagem de alta resolução e o audio de alta fidelidade, para tornar completa a troca de informação por fluxo electrónico. Algoritmos elaborados tratam desde protocolos a compressão de dados de forma a tornar fiável todo o processo e o próprio tratamento de informação será mais rico, utilizando-se técnicas Multimedia.

Os novos serviços de rede surgem e implementam-se, ganhando aceitação, além de se desenvolverem em diversos países e adquirirem uma comunidade de utilizadores própria. Vários são os serviços que, orientados para fins diferentes vão coexistir no futuro. Temos assim, entre outros, o rádio móvel, a videoconferência, o serviço de chamadas pessoal (beep beep), os tradicionais meios de difusão (rádio e televisão), o correio electrónico, e obviamente, o VIDEOTEX.

Tanto o correio electrónico como o VIDEOTEX exprimem toda a essência da comunidade electrónica, massa activa de troca de ideias, independentemente da localização geográfica e/ou temporal. São estes dois serviços que representam melhor a orientação e a sensibilidade para o futuro leque de serviços que as novas tecnologias proporcionam e também aqueles que possuindo já cerca de 15 anos de idade mostram ainda funcionalidade que justifique a sua existência.

O VIDEOTEX permite a visualização e pesquisa de informação, através de terminal adequado, sendo esta retida em bases de dados existentes e constituidas para o efeito. O VIDEOTEX possui, apesar da sua simples definição, o potencial de constituição de um conjunto de serviços que desempenhem o fiel da balança do fluxo de informação tanto em termos nacionais como supra nacionais.

A sua evolução dar-se-á de forma a que, no inicio, se constitua como meio alternativo para aquisição de informação e para a realização de transacções comerciais, para posteriormente, constituir-se como meio privilegiado e de maior peso.

Em termos tecnológicos existe a necessidade de um suporte de rede de transporte física, que possibilite o aumento da largura de banda do sinal a transmitir, a sua fiabilidade, velocidade e a qualidade de transmissão de dados. A evolução natural do VIDEOTEX é no sentido de utilizar como suporte a rede digital integrada de serviços (RDIS), o que já acontece, a título experimental, na Alemanha.

O VIDEOTEX - NEM MAIS NEM MENOS!

O VIDEOTEX é um produto digno da época actual: funciona, possui capacidades de se tornar popular e proporciona um serviço útil e necessário. Para organizações como as editoras, bancos e distribuidoras existe a possibilidade real de um novo meio de realização de negócios mais rápido e rentável, logo, mais eficaz e eficiente.

Para o consumidor combina a conveniência das compras electrónicas com o acesso a informações úteis, desde o lazer até aos dados financeiros, de um modo em que a tecnologia não intimida o utilizador.

A verdadeira questão não parece ser como se tornará popular o VIDEOTEX mas quando. Ninguém implementará um serviço de VIDEOTEX, com disponibilização dos equipamentos terminais necessários até que a dimensão do mercado o justifique, mas ninguém pagará preços exorbitantes por equipamento terminal que possui uso limitado devido à falta de serviços.

No entanto, o problema referido não é caso virgem na introdução de novos serviços, existiu durante os anos iniciais da indústria automóvel porque existiam apenas algumas estradas razoáveis e era comum, nos primeiros anos da televisão, ouvir-se o pouco interesse desta devido à falta de programação.

Mas tanto a indústria automóvel como a da televisão ultrapassaram os seus problemas através de um firme e apoiado crescimento até atingir um mercado de massas e os preços se tornarem em consequência, mais atraentes. O serviço de VIDEOTEX é relativamente restrito, mas à medida que se desenvolve este serviço, poderá atingir o ponto em que se tornará um serviço de massas.

A necessidade de meios de integração de informação, de palcos imparciais para a troca desta, farão com que o VIDEOTEX crie um percurso próprio e consubstânciado na necessidade e experiência de caminho percorrido. Será esta que em última estância, imporá o serviço em Portugal.

No final do ano corrente (1991) vivemos o ponto de viragem na oferta do serviço VIDEOTEX e no seu numero de utilizadores (cerca de 7900 previstos no final de 1991 e 50000 no final de 1995).

Do ponto de vista do fornecedor de informação o investimento na criação de um centro servidor VIDEOTEX é ainda da ordem das dezenas de milhar de contos, de qualquer forma a dimensão do risco actualmente assumido deve ser perspectivado na grandeza de um sucesso possivel com este novo serviço telemático que constitui o VIDEOTEX. Arriscar qualquer previsão comercial é bastante difícil pois pela natureza deste serviço, é o utilizador (consumidor de informação) e as reacções que então tiver que fornecerão a resposta a esta questão.

É curioso apontar que tratando-se de um serviço com grande investimento inicial tanto financeiro como tecnológico o seu sucesso depende fundamentalmente da componente humana. Sem dúvida um serviço indicador de uma nova era que se aproxima.


Página criada em 12/1/97 por Luís Gouveia
Última alteração: 12/1/97