E agora, vou ter de escrever!


Luís Manuel Borges Gouveia
Versão 1.0, Dezembro 1996

Introdução
Para quê escrever?
O que é escrever bem
Resumo dos cuidados fundamentais a ter quando se escreve
Suportes para a publicação do material escrito
Proposta de um método para escrever
Tipos diversos de documentos possuem diferentes estruturas
Bibliografia


Introdução

Todos nós, de uma forma ou de outra, sentimos já a necessidade e o peso de ter que escrever uma carta, um relatório ou mesmo uma simples mensagem electrónica e sermos possuídos por um estranho "mal estar" que impede essa mesma escrita.

Não sendo um especialista da área, este texto apenas pretende contribuir, de modo informal, para ajudar aqueles que se lançam na tarefa de tentar bem escrever os seus trabalhos. Desta forma serão apresentadas breves considerações que mais do que tentar sistematizar uma parcela do conhecimento sobre a "arte de escrever" apenas pretendem de forma simples apresentar o que é para mim o esforço de escrita de textos, como o faço e como considero que posso minimizar o trabalho de o fazer, maximizando os resultados obtidos.

Para quê escrever?

Acima de tudo para mostrar que estamos vivos! Efectivamente trata-se de uma actividade de criação que em maior ou menor grau nos satisfaz a todos; pois é reconhecidamente obtido um produto de nós próprios e uma forma de legar aos outros mensagens, opiniões e ideias próprias.

O falar é igualmente um sinal de soberania pessoal e uma atitude terapêutica a que todos nós reconhecemos importância (quando se conhece melhor uma pessoa, esta fala despreocupadamente, não acham?). Repara-se que falar exige a presença física (conversa, aula, etc.) ou temporal (telefone, videoconferência). Quando ouvimos uma gravação de alguém "não presente", geralmente não prestamos muita atenção (pelo menos a atenção que prestamos de outra forma!).

É aqui que o texto escrito possui importância; é o elemento principal para trocar informação entre pessoas, para registo de elementos para posterior consulta, para divulgação de ideias. Se calhar tão importante, também é um auxiliar poderoso para a reflexão individual, garantindo uma projecção física (existência no papel ou no ecrã do computador) para os nossos pensamentos.

Todos nós gostamos de elaborar uma lista de compras para o Natal ou para o Supermercado. Rascunhar num papel a lista de convidados de uma festa. Utilizar uma folha para fazer contas para a tal compra hà muito tempo prometida e muito simplesmente para registo da montanha de tarefas a realizar que nos acompanham no quotidiano.

Escrever é assim um acto de comunicação e quanto melhor o fizermos melhor será a nossa capacidade de sermos compreendidos da forma que o pretendemos ser.

O que é escrever bem

Eis aqui uma questão difícil e que, com certeza, preocupou e preocupa muitos estudiosos do assunto. De qualquer forma é possível arriscar que escrever bem se relaciona com o conseguir passar a mensagem desejada para o leitor. Desta forma, para um texto escrito existe sempre um objectivo principal e uma audiência que deve ser bem definida.

O objectivo principal do texto deve constituir a razão de ser do texto e o principal motivador, isto é, a lógica de escrita deve sempre obedecer a um princípio em que cada frase, cada parágrafo tem necessariamente de contribuir para o objectivo do texto pois, caso contrário, encontra-se a mais.

A audiência define os termos, o modo e mesmo a forma como o texto é escrito. A produção de um texto é realizada por um autor (ou por um número finito de autores) mas pode ser lido potencialmente por uma infinidade de leitores que tendem a realizar a leitura tomando os seus próprios valores, a sua própria experiência e o ambiente que os rodeia para complementar a construção mental da informação escrita.

Resumo dos cuidados fundamentais a ter quando se escreve

Que cuidados fundamentais? Existem textos com uma mesma extensão que se lêem uns mais rápida e facilmente que outros; porquê… naturalmente porque alguns destes são mais agradáveis à leitura e exigem menor esforço do leitor.

Numa época em que o tempo é um recurso escasso face à multiplicidade de solicitações a que estamos sujeitos; o esforço do leitor não pode ser desprezado e como tal deve ser minimizando, com textos curtos e auto-contidos, isto é, apresentado um dado tema seguindo uma linha de pensamento clara em que o material necessário à sua percepção seja colocado numa sequência curta e directa nesse mesmo texto.

Um texto de frases curtas; palavras simples, contendo a maioria da informação para a sua compreensão e bem organizado parece constituir a matéria prima dos textos que tenho lido e apreciado pela sua elegante construção.

Ora uma estrutura simples só é conseguida pelo domínio do tema a descrever, em conjugação com uma reflexão razoavelmente profunda do que se pretende escrever, incluindo o objectivo do texto e a respectiva audiência.

Parece pois razoável esperar que o acto de escrever seja entendido como um acto de paciência em que o elaborar do texto é apenas a parte visível do processo de escrita, que começa pela leitura de outros textos, pela reflexão sobre o tema de escrita e obviamente pelo tempo necessário à criação de uma visão própria do autor sobre o assunto.

Suportes para a publicação do material escrito

Actualmente, o papel deixou de ser o único destino final de um texto escrito. A publicação, com o advento do digital, também pode tomar outros suportes que não o papel. Desta forma, além da impressão em papel, outra forma de publicação é a electrónica em que os exemplos mais comuns são o CD-ROM e a Internet.

Nestes casos, a simplicidade e clareza do texto tem de ser reforçadas, a que é adicionado o facto do suporte utilizado não ser ainda um processo cómodo para o leitor (falta de hábito e efeitos da utilização de uma fonte luminosa como suporte de leitura - o ecrã).

O sucesso recente da Internet trouxe a sua divulgação e também uma nova forma de publicação de textos, que nunca chegam a ter outra existência que não digital, assumindo-se como documentos para serem consultados em formato electrónico.

Proposta de um método para escrever

É necessário obedecer a três restrições simultaneamente para obter um texto, conforme princípios de qualidade que permita passar a mensagem pretendida. Assim, temos restrições de tempo (prazo), restrições de dimensão do trabalho (normalmente em número de páginas) e, por último, restrições de informação disponível (material de documentação).

Desta forma, a escrita de um texto, por mais simples que se suponha será sempre consequência do modo como se lidou com restrições de tempo, dimensão do trabalho e informação disponível. Como lidar com estas questões é objecto de inúmeras obras e de várias cadeiras leccionadas na Universidade.

De qualquer forma, arrisco partilhar o método (mais ou menos empírico) que sigo para elaborar os meus textos. Por se tratar da minha experiência pessoal não, o método a seguir descrito não possui qualquer denominação, apenas descrição!

O método baseia-se a construção de textos, numa actividade dividida por três fases (todas elas podendo beneficiar das facilidades fornecidas por um bom processador de texto):

A primeira fase - a ideia e a estrutura - pode ser fornecida por terceiros (tanto a ideia como a ideia e a estrutura) e neste caso temos parte do trabalho realizado. Quando o projecto de criação parte da nossa parte, então aí é necessário definir concretamente o que se pretende escrever (mensagem), quem será o destinatário (leitor ou leitores) e como é apresentada essa mensagem (estrutura).

No entanto convém não confundir o tema com a mensagem, isto é, pode ser dado um tema para construção de um texto (por exemplo a Internet) e a partir deste elaborar um texto com a seguinte mensagem: "não estará a Internet a constituir uma oportunidade perdida para os países em vias de desenvolvimento?"; outro autor, a partir do mesmo tema pode querer passar uma mensagem do tipo "a Internet como meio de unir pessoas, independentemente da sua crença ou nacionalidade"

Estabelecida a ideia esta deve ser colocada numa folha de papel para garantir que não seja desvirtuada pela evolução de reflexões futuras que se façam. Desta forma assegura-se também como uma referência disciplinadora para a elaboração do próprio texto.

A estrutura deve servir a ideia e deve ser constituída após a escrita num papel dos principais pontos a introduzir para discussão e porque não defesa da ideia sugerida. Este tempo da primeira fase é crucial e deve ser objecto de anotação sobre pena de se perderem elementos importantes para o posterior enriquecimento do texto.

Com base no material obtido - ideia e frases de suporte - é possível esboçar uma primeira estrutura. Termina-se assim a primeira fase, que deve permitir o "descanso" do trabalho produzido de pelo menos um dia.

A segunda fase - documentação e criação do texto - é facilitada pelo trabalho desenvolvido na primeira fase. Sobre o tema escolhido é altamente provável que alguém tenha discutido a mesma ideia; importa saber então quem, quando, porquê, com que argumentos, com que exemplos, com que provas, com que factos… Todos estes elementos constituem documentação suficiente para que o texto elaborado possua mais qualidade e dessa forma reforce a defesa da ideia do texto.

Com base nos elementos recolhidos é possível realizar a construção do texto, agregando o trabalho da primeira fase com o trabalho da segunda fase desenvolvido até ao momento. É nesta fase que o treino de escrita permite acelerar o processo de construção de texto e, melhorar essa capacidade, só mesmo praticando!

A terceira fase - revisão e estabelecimento da unidade geral - inclui as tarefas que os processadores de texto tão bem sabem fazer, isto é, a verificação ortográfica, a paginação, a criação de uma tabela de conteúdos, a criação de índices, a proposta de palavras alternativas, a inclusão de elementos gráficos e de cor e o arranjo gráfico.

Paradoxalmente, apesar de os computadores possibilitarem a redução de tempo para revisão e arranjo gráfico do documento, é actualmente uma actividade que ocupa muito tempo caso não faça uma utilização adequada dos processadores de texto. A manipulação correcta de um processador de texto exige o investimento de algum tempo que, no entanto, é rapidamente compensado pelos ganhos alcançados nesta fase.

O tempo ganho desta forma pode ser investido para a leitura do texto desde o seu início até ao seu final, de forma a detectar se a sequência de texto apresentada é ou não a desejada para efectuar a defesa da ideia (em última instância, um texto de um trabalho ou relatório realizado na Universidade pretende passar a ideia que o seu autor ou autores merecem a melhor nota possível!).

A garantia de um "fio condutor" de início ao fim, facilita a leitura do texto e torna claro o seu conteúdo, envolvendo o leitor nos argumentos e/ou trabalho realizado pelo autor.

Resta acrescentar que o método descrito exige um tempo mínimo para ser realizado e desta forma é inimigo das iniciativas do tipo "vou fazer o trabalho no dia seguinte", mas evita a entrega de textos onde erros de Português, frases não terminadas e estruturas pobres são uma constante. Por vezes, um trabalho árduo realizado não é suficiente se não o apoiarmos num texto condizente que o descreva.

Tipos diversos de documentos possuem diferentes estruturas

Então, mesmo assim, depois de escrever, como apresentar? Já foi discutida a importância da estrutura de um documento e quando esta deve ser definida. Resta então referir que existem estruturas típicas para um memorando, um relatório de um trabalho, um relatório de estudo, um ensaio, um curriculum vitae. Mais uma vez, os processadores de texto incluem exemplos de estruturas alternativas para os documentos referidos que permitem um ponto de partida e uma referência para inovar ou propor estruturas que permitam passar a mensagem com mais facilidade.

A estrutura de um texto pode conter os seguintes elementos (a forma exacta de como devem ser incluídos estes elementos, consta de um manual de estilo publicado para o efeito; dois exemplos são o Manual de Estilo para Estágios e Monografias da Universidade e o Manual de Estilo para os trabalhos do Curso de Engenharia da Comunicação):

Escusado será dizer que a apresentação e arranjo gráfico valorizam um documento, tanto mais que a sociedade actual já adoptou a utilização do processador de texto como ferramenta de trabalho individual básica. Esta responsabilidade está acrescida na Universidade face à existência do computador portátil, que cada aluno possui.

Bibliografia

Bibliografia sobre possíveis estruturas para diferentes tipos de trabalhos:

ECO, U. Como se faz uma Tese em Ciências Humanas. Editorial Presença. Lisboa, 6ª edição, 1995

FERNANDES, A. J. Métodos e regras para a elaboração de trabalhos académicos e científicos. Porto Editora. Porto, 1994

QUATTRINI, J. A. Successful Business Presentations. Tab Books. EUA, 1990.

Bibliografia sobre guias de estilo e melhoramento de escrita:

BARRASS, R. Scientists Must Write, A Guide for Better Writing for Scientists, Engineers and Students. Chapman and Hall. London, 1978

HUCKIN, T. N. and OLSEN, L. A. English for Science and Technology, A Handbook for Nonnative Speakers. McGraw-Hill, New York, 1983

Bibliografia sobre apresentação de informação em formato electrónico:

GALITZ W. O. Handbook of Screen Format Design. QED. Massachusetts, 1985

SHNEIDERMAN, B. Designing the User Interface: Strategies for Effective Human-Computer Interaction. Addison Wesley. Massachusetts, 1987


Página criada em 12/1/97 por Luís Gouveia
Última alteração: 12/1/97