A HUMANIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO

Luís Manuel Borges Gouveia


As tecnologias de informação estão na ordem do dia. Fazem parte de um conjunto maior de tecnologias que se convencionou designar por novas. Porém, algumas, são já o resultado de processos com várias décadas de existência e apenas sofreram alterações ou foram adoptadas graças, em parte, ao aparecimento de novos meios e avanços quer em materiais e técnicas, quer devido a novas necessidades sentidas.

O certo é que o valor da informação se alterou; a informação passou de um acessório, ingrediente ou factor mais ou menos pacífico de obter para uma palavra chave que as organizações procuram avidamente definir. O custo da informação elevou-se e a sua origem já não é a mesma. Passou de ter predominantemente uma origem localizada em organismos, instituições e/ou qualquer outro tipo de organizações normalmente de caracterizada por possuir uma recolha de dados altamente centralizada e assentar numa estrutura "pesada", para uma novo estrutura muito mais dinâmica e autónoma, baseada nas próprias pessoas.

E porquê? em parte devido a que o tempo de resposta e flexibilidade de filtrar as informações necessárias exige actualmente uma maior adaptação a cada caso particular. A unidade operacional que melhor pode desempenhar este papel é obviamente uma pessoa altamente treinada, capaz de tomar decisões entre o importante e o secundário (aquilo a que o senso comum designa por "separar o trigo do joio"). Esta característica assume actualmente uma grande peso na avaliação das capacidades profissionais de um indivíduo. O valor dos recursos humanos é assim multiplicado em relação ao seu "status" anterior; este possui um papel activo e valorizado perante a organização em que actua.

Em consequência, verifica-se que as tecnologias de informação catapultam as pessoas, que possuírem o Know-how para agir neste ambiente, para um plano de evidência, como elementos privilegiados da sociedade actual.

O "know-how" (entendido como saber fazer) é agora a arma que permite uma boa e independente projecção profissional. Este tipo de informação associada a um indivíduo é única e indivisível; duas pessoas diferentes não reagem da mesma forma nem assimilam a mesma matriz de experiência seja qual for a semelhança das suas práticas.

Mas como cada indivíduo pode obter know-how na sua área de especialização?... cada vez mais é necessário considerar a formação de nível teórico (académica, garantindo os conceitos resistentes à mudança) como essencial. Mas esta não basta, também é necessário passar por um conjunto de experiências que coloquem o indivíduo perante um alargado leque de problemas para os quais encontrou soluções diversas, todas com vantagens e inconvenientes, devidamente avaliados.

É necessário preparar pessoas para enfrentar situações novas que requerem soluções inovadoras, igualmente novas. O treino de ultrapassagem de obstáculos colocados em diversas situações, com base em situações anteriores cuja solução ou medida a tomar se conhece é ainda o processo mais usual para a aquisição de "know-how" numa dada área. Esta capacidade a desenvolver assemelha-se a um atalho que poupa a uma organização a intervenção e gasto adicional de recursos, graças à intervenção de um único indivíduo.

É interessante observar que actualmente o know-how numa dada área já não é pertença de nenhum estrato profissional fechado; ele é encontrado (e mesmo procurado) em profissionais que necessitam de resolver problemas específicos para desempenhar as suas tarefas e assim recorrem a meios auxiliares de outras áreas, redefinindo o conceito de profissão de forma drástica.

Com base no exposto, ocorrem as mudanças que a informática (nomeadamente a microinformatica) imprimiu às organizações, o que permitiu ao indivíduo reconquistar a sua dimensão individual e o seu espaço próprio. O grupo de trabalho é agora assumido como um conjunto de indivíduos e não apenas como uma unidade de trabalho. Estes tem de trabalhar de forma cooperativa, introduzindo novas competências no indivíduo como comunicador e dinamizador do trabalho de grupo.

A consciência do valor do indivíduo na sociedade (designada de informação), que começa a dar os primeiros verdadeiros passos, vai alterar as organizações, as relações de trabalho e reavaliar estruturas básicas como sejam a família, a educação, o desporto, a cultura e mesmo a religião.

Nesta perspectiva, é possível arriscar que as tecnologias de informação ajudaram, como um dos factores activos, a humanizar a sociedade (nesta última década), reforçando a o reconhecimento do valor do indivíduo como gerador de ideias e angariador de soluções. As T.I. não são factor único mas são um dos mais influentes e a sua presença é perfeitamente identificável. Talvez por isso, as tecnologias de informação são cada vez mais utilizadas como ponto de partida para o estudo do comportamento da sociedade actual.

Será pois interessante questionar onde os recentes em serviços como a Internet nos levarão e qual a sua influência no modo de vida do final do século. Pode-se esperar que o reforço da qualidade de vida passa pela humanização das T.I.; para elas próprias atribuírem um novo valor ao seu utilizador: o indivíduo.

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Página criada em 5/2/98 por Luís Gouveia
Última alteração: 5/2/98