INTERNET - A EMERGÊNCIA DO NOVO SOCIAL

Agosto de 1996

Luís Manuel Borges Gouveia


Reportando ao ano de 1994, em Portugal, uma breve pesquisa aos títulos da imprensa nacional (especializada ou não) demonstra que o termo Internet e os conceitos que estão associados não constituíam motivo de comentário ou notícia. Apenas a partir da campanha norte-americana e do seu conceito Auto-estrada da Informação, a Internet passa a constituir notícia e ser objecto de acções de promoção comerciais, em grande parte lideradas, no nosso país, pela Telepac (operador público nacional para comunicação de dados).

No entanto, a origem da Internet não é recente e tem muito pouco de espontâneo. Decorria o ano de 1957 quando a União Soviética surpreende o mundo com o avanço do seu programa espacial. De facto, o lançamento do Sputnik constituiu sinal evidente da supremacia da URSS em relação aos seus concorrentes, nomeadamente aos Estados Unidos. Como medida de colmatar o atraso verificado, os USA formam a ARPA (Advanced Research Projects Agency).

É esta agência Americana que ficará encarregue de coordenador e financiar um conjunto de projectos que visam garantir a supremacia tecnológica americana. Curiosamente, passados quase 40 anos, verifica-se que um dos seus produtos - a Internet - alcançou notoriedade e influenciou todos os quadrantes da sociedade moderna e global em que vivemos.

Mas que projectos, quais os avanços verificados que permitira tornar a Internet como um produto desde a sua origem, dos esforços da ARPA. De facto, em 1962 aparecem os primeiros trabalhos em comunicação de dados que referem a comutação por pacotes, tendo em 67 sido apresentado um plano para uma rede com base neste tipo de tecnologia. Dois anos após, o Departamento de Defesa norte-americano cria a ARPANET, dando existência a uma rede de comunicação de dados com a tecnologia referida.

Em 1971, a rede possuía 15 nós e incluía 23 computadores, sendo apresentado o serviço de correio electrónico (e-mail) para redes distribuídas. Em 1973 a ARPANET estabelece ligação para fora dos USA (Inglaterra e Noruega). Desenvolvimentos tecnológicos como a Ethernet (LAN’s), o TCP e o aparecimento de uma versão comercial da ARPANET, bem como o desenvolvimento do UUCP, marcam a década de 70.

Os anos 80 introduzem a adopção dos protocolos TCP/IP, os servidores de nomes, o DNS (domain name server) e NNTP (network news transfer protocol) e assiste-se à globalização da organização da rede: Eunet (Europen Unix Network - 1982) e a JUNET (Japan Unix Network - 1984). O número de máquinas ligadas não cessa de aumentar e passa de 62 computadores (1974) para 235 (1982), 500 (1983), 1.000 (1984), 5.000 (1986), 20.000 (1987) e 100.000 computadores em 1989.

Verifica-se um dos primeiros ataques de vírus na rede (propagado através da Internet), em 1988 que afecta 6.000 computadores. Em 1986 é criada a NSFNET que possui um backbone que permite 56Kbps (1,544Mbps em 1989) e que cria 5 centros de supercomputação, oferendo à comunidade além do e-mail, poder de computação.

Em 1990 a ARPANET acaba (curiosa ironia histórica ou talvez não, ser precisamente um ano após a queda do muro de Berlim!). No entanto, a Internet agora denominada a "rede das redes" ultrapassou o âmbito nacional e tornou-se numa infra-estrutura que interliga à escala global a comunidade científica pelo menos nas áreas das denominadas tecnologias de informação.

O ano de 1991 vê aparecer a associação CIX (commercial Internet eXchange) que marca o pronuncio da nova forma da Internet, agora privada dos subsídios concedidos pelo DoD – o departamento de defesa norte-americano. Nesse mesmo ano, os USA criam a base estratégica da rede que pretendem ver defendida: NREN (National Research and Education Network). No que respeita a novas facilidades, o WAIS (wide area information service) e o Gopher são introduzidos.

O ano de 1992 constitui um marco histórico para a popularidade da Internet de que o CERN (interessante verificar tratar-se de um centro de pesquisa europeu!) é responsável ao introduzir o WWW (World Wide Web); nesta altura já a Internet era constituída por cerca de 1 milhão de computadores. A FSNET acompanha o crescimento de exigência em termos de trafego, aumentando o backbone para 44,735Mbps. Aparecem igualmente os primeiros Multicasts Mbone que servem de sinal para os operadores de telecomunicações sobre a eventualidade de uma ameaça ao seu negócio.

Em 1993, a Casa Branca (USA) liga-se à Internet, constituindo o primeiro sinal político de apoio à Internet; contribuindo muito para a descoberta da Internet pelos media e pelos negócios. Os computadores ligados atingem os dois milhões, em 94 são três milhões, em 95 são quatro milhões e no final de 96 prevêem-se seis milhões! Em 1994, o WWW, o gopher e o Mosaic proliferam. A Internet está de parabéns: faz 25 anos com o comércio electrónico e a publicidade a fazer a sua estreia neste meio; está atingida a maturidade do conceito de rede e definitivamente trata-se de mais um serviço à escala mundial com que podemos contar (outros são os transportes aéreos, a televisão, o telefone, o sistema financeiro - todos eles preocupados com a comunicação).

A NSF põe ênfase no financiamento da rede vBNS - Very High Speed Backbone Network Service em detrimento da NSFnet e os fornecedores da rede passam a assumir o papel principal na Internet (actualmente o seu número nos USA é de 1.000 e em Portugal de 6. O ano de 1995 vê aparecer um acrescido interesse pela Internet, com a Netscape e Microsoft a iniciarem uma luta titânica pelo negócio do software para acesso (navegação) e difusão (servidores) na rede.

Aparecem as primeiras campanhas reais para legislar e questionar a liberdade, os direitos e o conteúdo da rede. O tema Internet é introduzido em áreas como a sociologia, a gestão e a psicologia e passa a captar regularmente a atenção dos media. Mesmo em Portugal, o fenómeno chega ao poder político que propõe um plano nacional para dotar escolas com o acesso à Internet.

O impacto económico é de tal forma alargado que o próprio Bill Gates altera a estratégia da Microsoft para incluir não a televisão interactiva mas sim a rede. No seu livro Rumo ao Futuro, arrisca mesmo afirmar que não é só a televisão que será influenciada por este novo meio, são também os operadores de telecomunicações que contaram com a competição dos operadores de TV por cabo. No seu livro, Bill Gates apresenta o conceito de aplicações facilitadoras e a importância da visão para a sua empresa: assim da visão "um computador em cada secretária" passou para a visão "um acesso por indivíduo", investindo grande parte do seu esforço e prestígio na disputa da liderança pela prestação de serviços e oferta de software para a Internet.

Os próprios especialistas na área das ciências da computação parecem totalmente envolvidos com esta nova movida que dá pelo nome de Internet. Assim, tecnologias como Hypertexto, Cliente-servidor, HTML, VRML, realaudio, realvideo, agentes, JAVA, etc. parecem sobrepor-se e mesmo esgotar-se no tratamento (ou interesse) que possuem para a Internet.

Importa talvez realizar dois tipos de reflexão:

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Página criada em 3/3/98 por Luís Gouveia
Última alteração: 3/3/98