Professor Associado, Universidade Fernando Pessoa
Sumários das aulas (2001) e ligações úteis
Os apontamentos seguintes são resumos das aulas 7 a 10. Não
são necessariamente completos, não substituindo portanto os
apontamentos que os alunos devem elaborar por si
próprios.
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Bioquímica metabólica: |
È constituída por uma dupla camada fosfolipídica. As
porções polares dos fosfolípidos contactam o solvente aquoso e
as suas longas porções hidrofóbicas situam-se no
interior da membrana, longe da água. Na membrana encontram-se
proteínas de dois tipos:
A pH fisiológico, as macromoléculas que se encontram no Fluido
IntraCelular (FIC) possuem na sua quase totalidade
carga negativa. Para contrabalançar estas cargas negativas, o
FIC possui também elevadas concentrações de catião potássio
(K+). A grande concentração destes solutos no FIC significa que
se o Fluido ExtraCelular (FEC) não
contivesse solutos, haveria uma grande tendência para a água se
mover do FEC para o FIC, provocando aumento do volume celular
para além da elasticidade da membrana, i.e., ruptura membranar e
consequente morte da célula (choque osmótico). O FEC deve
possuir portanto solutos em quantidade suficiente para evitar a
ocorrência de choque osmótico. Os solutos mais abundantes no
FEC são o catião sódio (Na+) e o anião cloreto (Cl-). No
entanto, os iões inorgânicos têm uma certa facilidade em
atravessar a membrana, e portanto existe uma tendência para as
suas concentrações se tornarem iguais no FEC e no FIC. Como as
macromoléculas não atravessam facilmente a membrana e ficam
retidas dentro da célula isto significa que na situação de
equilíbrio existe maior concentração de solutos no FIC do que
no FEC, o que mais uma vez provoca choque osmótico. A célula
deve portanto possuir mecanismos que evitem o choque
osmótico. Em células animais, existe uma proteína cuja
função é manter as concentrações de iões inorgânicos longe
da posição de equilíbrio, evitando assim a sua acumulação no
FIC e posterior choque osmótico: a bomba de Na+/K+ ( Na+-K+
ATPase).
A bomba de Na+/K+ é uma proteína mebranar cuja função é
expulsar Na+ do FIC e recolher K+ do FEC. Para realizar este
trabalho é necessária energia, porque a proteína vai ter de
transportar os iões de zonas em que se encontram em baixas
concentrações para zonas em que se encontram em grandes
concentrações, i.e. contra a sua tendência
natural. Esta energia é fornecida pelo ATP. O mecanismo da
bomba é o seguinte:
O processo gasta bastante energia (cerca de 1/3 do ATP total
produzido pela célula em alguns casos), e tem como resultado a
translocação de 3 mol Na+ para o FEC e de 2 mol de K+ para o
FIC por cada mol de ATP hidrolizada.
Além da sua óbvia utilidade na manutenção do volume celular,
os gradientes de Na+ e K+ têm também outras funções, p.ex. a
transmissão do impulso nervoso em células nervosas e o
fornecimento de energia para transporte activo.
A natureza hidrofóbica do interior da membrana cria problemas à
difusão de moléculas de interesse biológico através delas,
uma vez que muitas destas são hidrofílicas. Os lípidos, gases
e as vitaminas lipossolúveis atravessam facilmente a membrana
sem necessidade de mecanismos de transporte (difusão simples),
mas as outras substâncias necessitam quase sempre de mecanismos
específicos para a sua translocação. Estes mecanismos podem
ser de vários tipos:
Qualquer dos métodos pode ser utilizado para transportar mais do
que uma espécie ao mesmo tempo. Neste caso, se as duas espécies
se movem na mesma direcção fala-se de simporte. Se se movem em
direcções opostas trata-se de um antiporte. O gradiente de
Na+ é muitas vezes utilizado para realizar um simporte de
açúcares para dentro da célula. Neste caso, a energia do
gradiente de Na+ é utilizada para transportar os açúcares
contra o seu gradiente de concentração (simporte activo).
Algumas bactérias produzem ionóforos: substâncias hidrofóbicas com locais de ligação a iões e com grande facilidade de se difundir através da membrana. Em alguns casos os ionóforos formam poros através da membrana. Estas substâncias são antibióticos potentes, pois destroem os gradientes iónicos necessários para a manutenção das funções celulares.
Pinocitose: na superfície das membranas existem zonas
revestidas com clatrina (poços revestidos). Muitas vezes estas
zonas possuem também receptores específicos para proteínas
transportadoras de sustâncias importantes (ex. colesterol ou
ferro). Estas zonas têm grande tendência a invaginar
(capturando assim porções do FEC) formando pequenas vesículas
que, após perderem o seu revestimento de clatrina, se fundem com
endossomas primários. Passado pouco tempo, encontram-se em
endossomas perinucleares e após fusão com lisossomas ocorre a
degradação dos conteúdos das vesículas. O ambiente acídico
dos endossomas promove a separação dos receptores, que podem
depois voltar à superfície para outro ciclo.
A fagocitose ocorre em macrófagos e neutrófilos. É um processo
estimulado, ao contrário da pinocitose,que é constitutiva.
A síntese proteica inicia-se no citosol, por ribossomas livres.
As proteínas que devem transitar pelo retículo possuem no seu
N-terminal uma sequência específica de aminoácidos, que serve
como sinal. Esta sequência é reconhecida por um complexo (a
particula de reconhecimento do sinal-SRP) constituído por seis
cadeias polipeptídicas e um RNA. A ligação da SRP à cadeia
nascente pára a tradução do mRNA. Na superfície do RER existe
um receptor específico que reconhece o conjunto
ribossoma-mRNA-cadeia nascente-SRP. O ribossoma encontra-se
agora ligado ao RER, e a ligação do conjunto ao receptor
promove a saída da SRP, possibilitando a continuação da
tradução. A cadeia nascente entra no interior do RER
através de poros específicos. No interior do RER, a
maioria das proteínas vai ser glicosilada. É também no RER que
se formam as pontes dissulfureto, num processo assistido pela isomerase
dos dissulfuretos proteicos. Esta proteína acelera a
formação e quebra das pontes de dissulfureto, facilitando
grandemente o processo de escolha das pontes de dissulfureto mais
estáveis. As cadeias nascentes são protegidas por proteínas
especiais, denominadas chaperones, cuja função é
impedir que as zonas hidrofóbicas das cadeias polipeptídicas se
agreguem prematuramente entre si dando origem a proteínas com a
conformação errada (e portanto inactivas).
No complexo de Golgi realiza-se a parte mais importante da
glicosilação. A cadeia glicosilada que as proteínas receberam
no RER vai ser modificada consoante o seu destino final. Esta
modificação inclui fosforilação de resíduos de manose (no
compartimento cis), remoção de resíduos de manose, adição de
N-acetilglucosamina, ramificação da cadeia (compartimento
médio) e adição de ácido N-acetilenuramínico(ácido
siálico) no compartimento trans.
Possuem uma grande variedade de hidrolases ácidas, capazes de
degradar quase todos os contúdos celulares. Estas hidrolases
têm um pH óptimo entre 3 e 6, e portanto o interior dos
lissomas é ácido. A acidificação é realizada por Bombas de
H+, que usam ATP. As suas enzimas são glicoproteínas
provenientes do Golgi, que saem da sua face trans em vesículas
específicas. A compartimentação destas enzimas impede a lise
indiscriminada dos conteúdos celulares.
Os lisossomas podem ser secundários ou primários, consoante
contêm ou não produtos de degradação. Possuem um halo sem
conteúdo visível ao microscópio electrónico entre a membrana
e o seu interior. Este halo poderá ser devido à presença de
oligossacarídeos que poderão proteger a membrana lisossomal de
auto-degradação.
Os lisosomas estão envolvidos em processos de autofagia e
heterofagia. A formação dos autolisossomas inicia-se quando uma
porção de RE envolve um organelo que deve ser destruído,
formando uma vesícula em seu redor. Esta vesícula é
posteriormente acidificada e funde-se depois com um sisossoma
primário, que inicia a degradação. Na heterofagia, os
lisossomas fundem-se com endossomas (provenientes da endocitose)
ou fagossomas (provenientes da fagocitose).
Algumas células são capazes de exocitar lisossomas para
destruir componentes extracelulares, p. ex. na formação de
tecido ósseo, em que é necessário eliminar primeiro as
células ósseas antigas.
O envelope nuclear é constituído por uma membrana externa
(contínua com o RE) uma membrana interna e a lâmina nuclear. A
função do núcleo é sintetizar os ácidos nucleicos
necessários para o funcionamento e reprodução celulares. No
núcleo existem vários sub-organelos (os nucléolos)
cuja função é sintetizar os ribossomas.
Os processos nucleares básicos são a replicação (síntese de
DNA) e a trancrição (síntese de RNA). O processo de
crescimento das cadeias de ácidos nucleicos é um processo
reversível. A fim de os tornar irreversíveis, as enzimas
responsáveis por estes processos acoplam-nos a processos
irreversíveis (no caso a hidrólise do (d)NTP), tornando o
processo total irreversível.
É realizada por DNA polimerase (com a ajuda de girases,
topoisomerases, primase, etc.). As novas cadeias são
sintetizadas (tal como no caso da RNA polimerase) no sentido
5-3, o que significa que cada novo nucleósido se
liga à extremidade 3 da cadeia nascente.
A DNA polimerase não conseguir sintetizar uma cadeia a partir do
nada, exigindo a presença de um pequeno oligonucleotídeo (um
primer). O primer é de RNA, e feito por uma RNA polimerase. Uma
das cadeias (a cadeia condutora) é sintetizada continuamente, ao
passo que a outra (cadeia atrasada) é sintetizada em fragmentos
(fragmentos de Okazaki) que são ligados entre si depois de
eliminados os respectivos primers.
A DNA polimerase é capaz de se auto-corrigir: um novo
nucleósido só é adicionado à cadeia se o anterior fôr
exactamente complementar ao nucleótido da cadeia
molde (Eng. template). Se a
complementaridade não fôr perfeita, o nucleósido errado é
eliminado pela própria DNA polimerase numa actividade de
exonuclease 3-5 (exonuclease = actividade de
degradação da extremidade de um ácido nucleico).
Em eucariotas, existem três RNA polimerases diferentes (uma para
cada tipo de RNA). A RNA polimerase liga-se ao DNA, mas só
começam a síntese de RNA depois de encontrarem pequenas
sequências específicas (os promotores). Existem vários tipos
de promotores, alguns dos quais muito mais fortes do
que outros, e esta é uma das razões por que alguns genes são
transcritos muito mais frequentemente do que outros. Muitos genes
possuem também sequências reguladoras onde se ligam proteínas
específicas, que impedem o desenrolamento do DNA e a
transcrição.
A síntese de RNA é feita continuamente, sem necessitar de
primers, e termina quando a RNA polimerase reconhece uma
sequência de terminação específica.
Em eucariotas, o mRNA é sintetizado numa forma
imatura (o hnRNA RNA nuclear heterogéneo).
Durante a síntese, a extremidade 5 é modificado com
7-metilguanosina. Após a síntese, é adicionada uma longa
cadeia de adeninas à extremidade 3. Seguidamente, ocorre a
remoção de intrões (splicing). Ocorre numa
estrutura constituída por proteínas e RNA (o
spliceossoma). O processo é catalizado por RNA.
A transcrição de rRNA ocorre no nucléolo. Cada subunidade do
ribossoma é produzida separadamente, e exportada para o
citoplasma através dos poros nucleares. As subunidades só se
juntam no citoplasma. O ribossoma completo é demasiado grande
para passar pelos poros nucleares, e portanto os ribossomas
estão impedidos de entrar no núcleo.
Em eucariotas, o tRNA iniciador é inicialmente posicionado na
subunidade pequena com a ajuda de um factor de iniciação ainda
antes da ligação ao mRNA. O mRNA liga-se à subunidade
pequena através da sua extremidade 5, e desliza através
dela até o codão de iniciação (AUG) ser reconhecido pelo tRNA
de iniciação. Nesta altura o factor de iniciação desliga-se e
começa a tradução da mensagem. Todas as proteínas
recém-sintetizadas contêm portanto metionina como primeiro
aminoácido. No entanto, frequentemente esta metionina é clivada pouco
depois por uma amino peptidase, pelo que muitas proteínas maduras não contêm Met como aminoácido N-terminal.
[Incompleto. Terminarei quando tiver tempo ;-) ]
![]() | Molecular Biology of the Cell Um texto clássico, pormenorizado e escrito de forma muito acessível. |