Comercio electrónico: "surfar entre bits" ___________________________________ Índice

Capítulo V - EUROPA


Em 1848 respirava-se nas ruas de toda a Europa um ar de revolução. Desde a Alemanha passando pela Bélgica o "cheiro" de uma Revolução Industrial e a sede de prosperidade eram a marca mais forte desses tempos. Hoje acontece o mesmo, mas a Europa está assustada com o futuro. Os seus medos são fundamentados, mas há razões para ter esperança.
O que se processou em Manchester em 48, a que os Europeus chamaram Manchesterismo, criou condições para uma explosão extraordinária do capitalismo, em que o objectivo consistia na transformação da mão de obra em mais-valia* .
Hoje já não é assim, a revolução que se está a processar depende da capacidade de transmitir ou transformar informação, de juntar pessoas e ideias de novas formas. Esta nova revolução já não se chama Manchesterismo, mas agora chama-se Paloaltismo* .
Os Estados Unidos são, sem sombra de dúvida, o líder desta revolução digital. As suas empresas produzem os melhores microprocessadores e os melhores programas, parece ter um número infindável de pequenas empresas que são avaliadas em milhões de dólares antes mesmo que alguém no resto do mundo perceba muito bem o que é que elas fazem.
Além dos norte-americanos produzirem mais computadores são os que mais os compram e que mais os utilizam - como consequência é difícil imaginar que a Europa possa ter algum papel na revolução digital a não ser de o seguidor.

figura 5.1 - Utilidade dada pelas empresas à Internet
in "A. E.", 4 de Novembro de 1996

Porque é que a Europa fica muitas vezes para trás? Algumas razões podem ser apontadas - um mercado fragmentado, intervenções governamentais ineficazes, altos custos, investidores avessos ao risco e a sua cultura conservadora indisposta a inovar.
Mas nem tudo é assim tão mau. A Europa apesar de estar atrás dos Estados Unidos tem crescido exponencialmente e aprendido com os erros. Já existem países da Europa que possuem percentagens altas de ligação à Internet. Na Suécia 70% dos trabalhadores a tempo inteiro já usam o computador todos os dias. Na Finlândia, as companhia telefónicas já estão a oferecer acessos móveis à Internet, e se como se espera que a Europa abra o seu mercado de telecomunicações à concorrência, vai ser possível a implantação de linhas de banda larga rapidamente como em qualquer outro lado.
Além disso o facto de possuir muitas pequenas empresas pode ser bem explorado pois a força do comércio na Internet baseia-se nas pequenas empresas. A Europa só precisa de as ligar à rede.
E depois vem a oportunidade. O verdadeiro valor de uma rede vem do que se consegue retirar dela e não do que se põe. A Europa tem um grande potencial como fornecedor de conteúdo, sendo proprietário do que lá está, pois possui uma grande herança cultural e pessoas que a sabem explicar. Pode não ter Hollywood, mas numa era de entretenimento personalizado pode não ser necessário. A sua selectividade pode ser a sua força.
A Europa possui a concentração de inteligência e habilidade para produzir novidades para o mundo dos computadores. O WWW foi inventado na Europa, mas foi preciso os americanos descobrirem a sua aplicação comercial. Se um desenvolvimento semelhante aparecesse agora provavelmente aconteceria o mesmo; talvez esta constatação não se realize daqui a alguns anos.
Aconteça o que acontecer o futuro da Europa em termos de revolução digital nunca irá ser igual ao dos Estados Unidos, pois já existem alguns anos de atraso. Mas o futuro da rede vai ser mais do que negócios, vai ser acerca de cultura e da forma como aparecerão novas formas de comunicação entre as comunidades.
As empresas Europeias, devido ao maior número de empresas ligadas à Internet nos Estados Unidos, têm mais a ganhar na América do que os americanos na Europa. Além disso os gestores Europeus estão mais habituados a ultrapassar barreiras culturais que são um entrave ás comunicações internacionais.

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Mas o que é que a Europa está a fazer para alterar esta situação?
A maior parte dos países europeus pertencentes à Comunidade, estão à espera que os órgãos europeus legislem e tomem as rédeas para depois aplicarem as directivas às suas leis nacionais. Esta pode ser uma boa opção na medida em vai permitir um uniformização das políticas a seguir, mas produz ainda maiores atrasos.
Os órgãos centrais tem em elaboração uma iniciativa cujo objectivo é encorajar o crescimento do comércio electrónico na Europa. Esta iniciativa pretende melhorar as bases dos sistemas já existentes para poderem suportar o acréscimo que se espera no virar do milénio.
Os seus principais elementos são:

O comércio na Internet é transnacional e encoraja a encomenda e entrega internacional de mercadoras, ou seja estimula directamente a concorrência no mercado único. O mercado único por sua vez oferece uma massa crítica de empresas e clientes que ultrapassa as fronteiras nacionais, oferecendo também novas oportunidades ás regiões periféricas. Assim sendo o comércio na Internet é um factor que contribui para a coesão e integração europeias.
Do mesmo modo a utilização de uma moeda única no mercado comum mais vasto do Mundo, é um incentivo ao comercio em rede e inversamente pode contribuir decisivamente para a aceitação do euro.
A Internet é um excelente meio de promover as empresas Europeias, devendo os gestores aproveitar esta oportunidade sem medos, caso contrário correm o risco de a deixar passar; é necessário ver a Internet como uma oportunidade e não como uma ameaça.
Um outro aspecto que preocupa a Comunidade Europeia é a questão da segurança, sendo que para tal a CE está a elaborar uma série de medidas baseadas em quatro princípios, que proporcionarão a construção de um quadro legislativo adaptável e adequado:

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Agora que a Europa se move para um espaço único uma barreira fisicamente pequena, mas que se pode tornar enorme ao viajante, que pode ameaçar o uso da Internet, é a panóplia existente de diferentes fichas de telefone. Para milhares de pessoas para quem o modem é a sua única ligação ao escritório, uma ficha diferente pode significar atrasos incalculáveis, mensagens não lidas e material perdido.
Existem mais tipos de fichas telefónicas na Europa que países. Além de em cada país existir, pelo menos, uma ficha diferente, na Alemanha esse número eleva-se a cinco diferentes. Um telefone cuja campainha acordaria um morto em Londres, na Suíça nem sequer tocaria, pois neste último a voltagem seria demasiado baixa para o fazer tocar.
Claro que existem sempre adaptadores, mas nem sempre isso resolve a situação. Em Budapeste por exemplo, se se adquirir um adaptador para as fichas húngaras pode não servir no hotel, onde a maior parte dos modems são ligados, pois se o hotel for americano terá uma ficha americana, mas se for alemão terá uma ficha alemã. A juntar a isso em algumas linhas, e se se tentar ligar por conta e risco, a voltagem é muito superior, podendo mesmo queimar o modem. Felizmente que a maior parte dos modems para portáteis estão protegidos deste risco. Outro risco que existe em alguns países é o de se estar a cometer uma ilegalidade, ao desmontar uma tomada telefónica para ligar os fios directamente ao modem.
Uma simplificação parece estar em curso no sistema das fichas - a RJ11 e a RJ45. A primeira é a standard nos Estados Unidos e a preferida dos modems, a segunda é parecida mas um pouco mais larga, e está a ser utilizada na Europa quando se instalam linhas digitais. Mas se a velocidade de transmissão aumentar no futuro, outro tipo de fichas poderão ser necessárias pois a RJ45 poderá não satisfazer as necessidades.
Isto tudo se passa quando a Comunidade Europeia tenciona desregulamentar as companhias de telecomunicação em Janeiro de 1998. Espera-se que tal medida ajude à criação de um standard das fichas, que a Comunidade, apesar de ter pedido vários estudos acerca do tema nunca teve uma resposta consistente.

Telefones e Internet
Segundo um estudo realizado pela ITU (International Telecomunications Union), revela que na Europa os Finlandeses são os que mais utilizam a Internet. Possuem ainda o maior número de servidores por 100 habitantes, muito acima da média e superando mesmo os Estados Unidos.
Portugal apesar de não estar em último da Europa, com um índice de servidores por 100 habitantes superior ao da Grécia, fica muito perto e claramente abaixo da média europeia.

Linhas Telefónicas

Servidores de Internet

Países

Milhares

Por 100 Habitantes

Milhares

Para 100 Habitantes

Por 100 Linhas

Alemanha 44100 53,4 721,8 0,87 1,64
Áustria 3820 46,6 91,9 1,12 2,41
Bélgica 4725,5 46,5 64,6 0,64 1,37
Dinamarca 3251 61,5 106,5 2,01 3,28
Espanha 15412,8 39,3 110,0 0,28 0,71
Finlândia 2813 54,8 283,5 5,52 10,08
França 32900 56,3 245,5 0,42 0,75
Grécia 5328,7 50,6 45,9 0,15 0,30
Irlanda 1390 38,3 27,1 0,75 1,95
Itália 25259 44,0 149,6 0,26 0,59
Luxemburgo 244 58,8 3,5 0,84 1,44
Holanda 8431 54,3 270,5 1,71 3,21
Portugal 3724,3 37,5 26,1 0,26 0,70
Reino Unido 29700 50,4 591,6 1,00 1,99
Suécia 6032 67,6 233,0 2,61 3,86
Europa 143031,5 38,2 2219,0 0,79 1,57

figura 5.2 - Linhas telefónicas e servidores da Internet na Europa
in "Expresso", 18 de Outubro de 1997

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De acordo com um estudo feito pelo Centro de Ciências da Computação do Instituto de Tecnologia da Geórgia, em Atlanta, nos Estados Unidos, mais de metade dos utilizadores da Internet estão a desinteressar-se pela televisão.
Ainda de acordo com este estudo, de âmbito mundial, 36% dos inquiridos usam a Net em vez da televisão e dos primeiros 74,3% pertencem à faixa etária com mais de 50 anos. A idade média dos utilizadores da Internet é de 33 anos sendo mais baixa na Europa, 28,8 anos, do que nos Estados Unidos, 33,9 anos.

figura 5.3 - Quanto menos televisão se vê...
in
"Tiempo", 20 de Janeiro de 1997

figura 5.4 - ...mais se utiliza a Internet
in "Tiempo", 20 de Janeiro de 1997

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Monografia realizada por Rui Pedro Silva
5º ano Marketing
Universidade Fernando Pessoa