Substituições nucleófilas

Prof. Doutor Pedro Silva

Professor Associado, Universidade Fernando Pessoa

 

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Bioquímica metabólica:


  • Nucleófilos
  • Substituições nucleófilas unimoleculares (SN1)
  • Substituições nucleófilas bimoleculares (SN2)
  • Quais os factores que favorecem as SN1?
  • Quais os factores que favorecem as SN2?
  • Efeito da força da base nos grupos migrantes
  • Forças dos nucleófilos
  • O efeito de solventes apróticos nas reacções de SN2
  • Um nucleófilo (base de Lewis) é um anião ou molécula neutral que possui um par de electrões não-compartilhados. P. ex. quer HO- quer H2O podem actuar como nucleófilos reagindo com alcanos halogenados para produzir álcoois:

    Muitas substâncias podem actuar como substratos de substituições nucleófilas, além dos derivados halogenados dos alcanos. Para ser reactiva, uma molécula deve possuir bons grupos migrantes. Nos alcanos halogenados o halogénio substituinte é o grupo migrante: deixa a molécula sob a forma de anião. Para ser um bom grupo migrante, o substituinte deve ser capaz de deixar a molécula sob a forma de ião (ou molécula) relativamente estável, fracamente básico. Os halogenetos são relativamente estáveis e são bases muito fracas, pelo que constituem bons grupos migrantes.

    Substituições nucleófilas unimoleculares (SN1).

    Uma reacção diz-se unimolecular quando (a pressão e temperatura constantes) a sua velocidade só depende da concentração de um dos reagentes. Isto significa que o passo limitante da reacção, i.e., o passo mais lento, não envolve colisão de moléculas. P. ex. a reacção do cloreto de terc-butilo com a água.

    A reacção é iniciada pela saída do anião cloreto. Forma-se então um carbocatião (electrófilo muito forte), que será facilmente atacado pela água. A água substitui assim o Cl que estava ligado à molécula. A desprotonação final dá origem ao álcool.

    Substituições nucleófilas bimoleculares (SN2).

    Uma reacção diz-se bimolecular quando (a pressão e temperatura constantes) a sua velocidade depende da concentração de dois reagentes. Isto significa que o passo limitante da reacção, i.e., o passo mais lento, envolve colisão de duas moléculas. P.ex. a reacção do anião hidróxido com a clorometano:

    No estado de transição o carbono está rodeado por cinco substituintes: existe uma ligação parcialmente formada entre o carbono e o oxigénio, ao mesmo tempo que a ligação entre o carbono e o cloro se rompe. Nesta reacção ocorre inversão de configuração.

    Quais os factores que favorecem as SN1?

    Todos os factores que estabilizem o estado de transição (ET) mais do que o estado inicial aceleram a reacção por diminuírem a energia de activação:

    Analogamente, os factores que instabilizem mais o estado inicial do que o ET aceleram a reacção.

    Portanto serão favoráveis à reacção SN1:

    Neste caso o estado inicial (que tem a carga mais concentrada no S) será mais estabilizado por um solvente polar do que o estado de transição em que o S se está a afastar do carbono, uma vez que neste estado a carga se encontra mais dispersa.

    Quais os factores que favorecem as SN2?

    Em primeira aproximação, basta escolher condições menos propícias a SN1:

    Efeito da força da base nos grupos migrantes

    Grupo migrante

    pKa do acido conjugado

     

    <0

    Bons grupos migrantes

    I-

    Br-

    H2O

    Me2S

    Cl-

    CF3CO2-

    0,2

    H2PO4-

    2

    CH3CO2-

    4,8

    CN-

    9,1

    Fracos grupos migrantes

    NH3

    9,2

    10

    RNH2, R3N

    10

    C2H5S-

    10,6

    HO-

    15,7

    Maus..

    CH3O-

    15

    NH2-

    36

    Péssimos...

    CH3-

    49

     

    Forças dos nucleófilos

    Óptimos I- , HS-, RS-
    Bons Br- , HO- , RO- , CN- , N3-
    Razoáveis NH3 , RCO2- , F- , Cl-
    Fracos H2O , ROH
    Muito fracos RCO2H

     

     

    O efeito de solventes apróticos nas reacções de SN2

    Um solvente designa-se prótico se possui hidrogénios ligados a átomos bem electronegativos (normalmente oxigénio). P. Ex:

    Estes hidrogénios têm todos um certo carácter ácido, pelo que podem formar pontes de hidrogénio e solvatar espécies com carga negativa:

     

    Os nucleófilos bem solvatados são menos reactivos: a carga encontra-se mais deslocalizada, e a camada de moléculas de solvente à sua volta dificulta o ataque nucleofílico: é necessário retirar moléculas de solvente para haver espaço para ceder o par de electrões a outra espécie.

    Um solvente aprótico não tem este tipo de hidrogénios. P. Ex.:

    Portanto, os nucleófilos carregados negativamente não sofrerão perda de reactividade nestes solventes. Por isso, realiza-se SN2 preferencialmente em solventes polares apróticos. Os solventes polares apróticos mantêm a capacidade de estabilizar espécies de carga positiva, pelo que além disso ajudarão a estabilizar o estado de transição.

    Bibliografia

    coverOrganic Chemistry, 7th Edition, Solomons & Fryhle

    Um texto clássico, pormenorizado e escrito de forma muito clara.

    cover Organic Chemistry: a Brief Course, Carey & Atkins

    Um bom resumo de química orgânica.

    cover Organic Chemistry, Francis Carey

    Bastante pormenorizado, este livro inclui um óptimo programa de construção tridimensional de moléculas, bastante útil para o estudo da estereoquímica, conformações, etc.

    "Química Orgânica", Carlos Corrêa

    Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto