Reactividade de aldeídos e cetonas

Prof. Doutor Pedro Silva

Professor Associado, Universidade Fernando Pessoa

 

Outras páginas de Química Orgânica:

Bioquímica metabólica:


  • Síntese e reactividade característica de aldeídos e cetonas
  • Redução de aldeídos e cetonas
  • Hidratação
  • Formação de acetais
  • Enóis
  • Condensação aldólica
  • Síntese de iminas
  • Síntese e reactividade característica de aldeídos e cetonas

    Já encontrámos várias reacções que produzem aldeídos e/ou cetonas: a oxidação dos álcoois, a ozonólise e a acilação de Friedel-Crafts:

    A natureza polar do grupo carbonilo permite-lhe reagir quer com electrófilos como com nucleófilos: os nucleófilos atacarão o carbono (que tem deficiência de electrões) e os electrófilos atacarão o oxigénio (que tem elevada densidade electrónica).

    Redução de aldeídos e cetonas

    Os aldeídos e as cetonas podem ser reduzidos respectivamente a álcoois primários e a álcoois secundários. A redução pode ser realizada (tal como a redução de alcenos) por hidrogenação na presença de Pt, Pd, Rh ou Ni.

    Para a maior parte das aplicações laboratoriais, este método foi substituído por métodos baseados em hidretos metálicos. Os reagentes mais comuns são o boroidreto de sódio (NaBH4) e o LiAlH4.

    Hidratação

    Os aldeídos e as cetonas reagem com a água num equilíbrio rápido:

    O produto é um diol (uma molécula com dois grupos álcool). A quantidade de hidrato presente no equilíbrio é muito variável, e é normalmente muito maior para os aldeídos do que para as cetonas. A posição do equilíbrio depende de factores electrónicos e de factores estéricos (relacionados com o volume). Substituintes que libertam densidade electrónica (por exemplo, grupos metilo) estabilizam o grupo carbonilo e diminuem a extensão da hidratação. Da mesma forma, substituintes que instabilizam o carbonilo favorecem a formação do hidrato. Factores estéricos: No hidrato, o carbono central está muito mais “apertado” do que no aldeído ou cetona inicial. Quanto maiores forem R1 e R2, maior será a instabilização da forma hidratada, e portanto a quantidade de hidrato presente no equilíbrio será menor. A hidratação dos aldeídos e cetonas pode ser catalizada quer por ácidos quer por bases.

    Catálise alcalina

    Catálise ácida

    Formação de acetais

    Sob condições de catálise ácida, os aldeídos reagem com álcoois formando diéteres denominados acetais. O primeiro passo é o ataque (catalizado por ácido) do aldeído por uma molécula de álcool, num processo bastante semelhante ao ocorrido na hidratação:

    Nas condições ácidas da sua formação, o hemiacetal é convertido num carbocatião:

    Este carbocatião é estabilizado por ressonância, devido à presença dos pares de electrões não-ligantes do oxigénio:

    O acetal é formado por reacção do carbocatião com outra molécula de álcool:

    Enóis

    Aldeídos e cetonas com pelo menos um hidrogénio a (hidrogénio ligado ao carbono imediatamente adjacente ao carbonilo) encontram-se em equilíbrio com um isómero denominado enol. Este equilíbrio chama-se tautomerismo ceto-enol. Os tautómeros são isómeros que diferem entre si apenas na posição de um átomo ou grupo de átomos. Para cetonas e aldeídos simples, o equilíbrio encontra-se fortemente deslocado no sentido do composto carbonilo. Isto permite sintetizar aldeídos a partir de alcinos: a hidratação de um alcino dá origem a um enol, que está em equilíbrio com o composto carbonilo correspondente:

    A enolização pode ser catalizada por uma base forte, como o anião hidróxido. A base retira um hidrogénio a, dando origem ao enolato correspondente. O enolato é uma espécie estabilizada por ressonância:

    Esta ressonância é a razão da elevada acidez dos hidrogénios a dos aldeídos e cetonas, uma vez que o anião enolato é mais estabilizado do que o composto carbonilo original.

    Condensação aldólica

    O aldeído pode ser parcialmente convertido em enolato por catálise alcalina. O enolato assim formado pode atacar outra molécula de aldeído dando origem a um aldol (uma molécula com um grupo aldeído e um grupo álcool). Apresenta-se a seguir o mecanismo desta reacção (adição aldólica)

    A adição aldólica é um equilíbrio que favorece os produtos quando o reagente é um aldeído. Quando se usam cetonas o equilíbrio normalmente encontra-se deslocado no sentido dos reagentes; as cetonas dão por isso fracos rendimentos de produtos de adição aldólica. O produto da adição aldólica de um aldeído é um aldeído b-hidroxilado. Da mesma forma, sob determinadas condições, um aldeído (ou cetona) b-hidroxilado pode ser quebrado em duas moléculas mais pequenas numa reacção que é o inverso da adição aldólica. Uma reacção deste tipo é a quebra de frutose-1,6-bisfosfato em dihidroxiacetona fosfatada e gliceraldeído-3-fosfato, que ocorre na glicólise . Por aquecimento, estes compostos desidratam, dando origem a uma ligação dupla carbono-carbono conjugada com o aldeído. A desidratação ocorre sempre na direcção em que se formam ligações conjugadas C=C-C=O.

    Síntese de iminas

    As aminas podem reagir com cetonas (ou aldeídos), dando origem a compostos com ligação dupla C=N , chamados "iminas" ou "bases de Schiff" . Esta reação ocorre em solventes próticos polares (como a água ou alcoois) na presença de pequenas quantidades de ácido: se houver demasiado ácido, a amina original fica protonada e impedida de reagitr por deixar de ter pares não-ligantes disponíveis para estabelecer uma nova ligação. O ácido é necessário para protonar o primeiro intermediário (a carbinolamina) e assim permitir a sua desidratação.

    A reação também pode ocorrer na presença de solventes apolares sem qualquer adição de ácido. Neste caso, a ausência de solvente polar protonável impede o primeiro passo de pode ocorrer, uma vez que a transferência do protão do azoto para o oxigénio nãp pode ocorrer sem ajuda devido a questões geométricas. O mecanismo começa, em vez disso, com a autoprotólise da amina, que dá origem a uma amina desprotonada ( R2N- ) e a um catião amínio (R2NH+) que vai acelerar o primeiro passo da reacção ao permitir a rápida protonação do oxigénio da carbinolamina nascente ( Silva,2020 )

    Bibliografia

    coverOrganic Chemistry, 7th Edition, Solomons & Fryhle

    Um texto clássico, pormenorizado e escrito de forma muito clara.

    cover Organic Chemistry: a Brief Course, Carey & Atkins

    Um bom resumo de química orgânica.

    cover Organic Chemistry, Francis Carey

    Bastante pormenorizado, este livro inclui um óptimo programa de construção tridimensional de moléculas, bastante útil para o estudo da estereoquímica, conformações, etc.

    "Química Orgânica", Carlos Corrêa

    Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto